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  • Foto do escritorApoena Torres Forte de Lima

A Morte do Irregenerável

Atualizado: 5 de out. de 2023


Um escravo litorâneo, laborioso à exaustão das produções de açúcar que adoçavam os lábios de parte da ambígua Costa Mediterrânea. Um dia,  levantou-se contra o açoite assíduo, a opressão d’alma, a fome faminta que o prosternava e os abusos infindos do seu verdugo, e proclamou altissonante:


“Sou gente! Sou gente! Não sou mula para o chicote estalar sobre meu dorso, não ando e nem ladro como a um cão para o sustento vir das sobras. Sou gente!”


Após proclamar sua subversividade; o carrasco, com teu sobrolho franzido em cólera, subjugou Damião. Passou longos dias e largas noites submetido ao cativeiro pedagógico, sua punição legal para transgressão às leis.

E, num belo dia, menos por ocasião de belas amostras da natureza do que pela liberdade que alcançava Damião – e é belo qualquer tempo e lugar cujo sol bata sem que o veja sobre as grades metálicas e sem o peso calcanhar do grilhão.

Enfileirados, todos os escravos, por ordem de Sinhô Pedro, com Damião ao lado, proferiu por conseguinte:


“Temos aqui o exemplo do crime, da rebeldia, da transgressão, de tudo o que nossa fazenda, tal como qualquer ambiente social, tem que repelir moralmente, punir nos rigores da lei e, assim, regenerar pelo castigo o feitor.”


Enquanto falava, os escravos não se olharam atônitos, muito menos emergia qualquer revolta nos olhos. Pelo contrário, configurava-se-lhe na expressão facial “merecido!”. Era a ordem da fazenda, com respaldo jurídico oficial, era o progresso das lavouras de riquezas açambarcadas pelos bolsos sôfregos de Sinhô Pedro.

Damião, chamado para depoimento público, confessou seu crime, meneando a cabeça em profundo arrependimento. Dias depois, após longo burburinho na senzala, um preto ancião, nascido com a vergonha e envelhecido na resignação, chamou Damião para o brio e consciência que nunca tivera.

No ímpeto de coragem e nas vestias audazes, Damião esperou momento oportuno, e inflamou a massa de escravos, seguindo a revolta, queimaram paióis, amarraram capitães do mato, prenderam carrascos sem maior peleia, vendo-se estes ínfimos ao movimento de tantas mãos e cabeças uníssonas.

Até chegarem a Casa Grande, onde descontou-se todas as dívidas trabalhistas com a vida criolla, dos quais o mais proeminente, Sinhô Pedro, fora brutalmente decapitado.

A liberdade foi acachapante, no entanto, a justiça monárquica logo debelou a justiça de um povo, o juízo instituído desbaratou o juízo histórico. Por um magistrado de notório conhecimento jurídico e de amostras do direito Romano, condenou à morte Damião e sua comitiva pelo crime hediondo de matar o algoz, as leis e fugirem ao seu tempo.

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