A soberania de um país deve ser absoluta. Há de se concluir tal, porém, se a análise
não for holística e conspurcada estiver de qualquer parâmetro moralista, o resultado será controverso e pernicioso. O Banco Mundial anunciou, 08/23, que não aprovará novos recursos para Kampala, capital da Uganda, país do oriente africano. A recusa é proveniente da legislação do país africano – contrariando os valores da instituição (Banco Mundial) – que prevê pena de morte para alguns atos homossexuais e prisão de até vinte anos para aqueles que estimularem tais.
Museveni, presidente da Uganda, conclamou que o desenvolvimento do país virá, com ou sem financiamento do Banco Mundial, e, que, além do mais, a instituição subestima o país e desrespeita sua soberania.
Em primeiro lugar, por mais execráveis que venham a ser a legislação criminosa da
Uganda, a renovação cultural tem de vir do povo ugandense, no exercício pleno de sua sacralizada soberania popular e nacional. Um crime, além do mais, não é efetivamente combatido com outro, pois, a priori, sanções econômicas o são também, uma vez que, nas relações geopolíticas e internacionais, condena países à miséria. Não havendo, portanto, nada além de um sadismo moralista pretensiosamente pedagógico.
Retornando ao exórdio, uma compreensão sociológica e antropológica é acachapante para não se incorrer no presumido equívoco das imposições de valores culturais às realidades incompatíveis com nosso quadro subjetivo; sobretudo, a história deixa evidente,
e, pois, adentremos nela:
Uganda conquistou sua independência do império britânico a pouco mais de 50 anos, 1962, em termos históricos, uma nação nova. Em contrapartida, os Estados Unidos da
América tiveram sua independência a mais de dois séculos, e quando Uganda tinha
apenas dois anos como nação, 1964, os EUA aboliram oficialmente o apartheid, a segregação racial execrável que havia no país do liberal Thomas Jefersson, pai da constituição americana; o país das altissonantes liberdades. Deveria, de tal
sorte, ter tido interferências externas nesse país, ou na Coreia do Sul atual que condena seu povo a 12 estafantes horas de trabalho/dia, ou ainda nos países que seguindo o malogrado Consenso de Washington condenam seus povos à penúria e inanição?
As diversas realidades concretas devem ser modificadas não pelas imposições de prismas avessos aos das próprias, mas sim pela ação emancipada e soberana dos seres
políticos componentes de tais estruturas sociais. O devir histórico de supressão do que deve ser suprimido, só há de ser se vier da própria Uganda.
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